sexta-feira, 9 de julho de 2010

#SÉRIE DE REPORTAGEM SOBRE CULTURA - parte 2


COMO ANALISAR SE UMA CULTURA É AUTÊNTICA?

Para Darcy, uma cultura é autêntica quando seu sistema ideológico corresponde aos seus sistemas adaptativo e associativo. Assim, uma cultura é autêntica quando seu sistema adaptativo é capaz de suprir as necessidades de toda, ou quase toda, a população. Além disso, quanto maior a interação social (cujo símbolo máximo é a democracia), mais estável e evoluída é uma cultura. Portanto, quanto mais autêntica é a cultura, mais evoluída é a sociedade.
Tomemos as sociedades capitalista-consumistas como exemplo: seus sistemas ideológicos, pouco ecológicos e não muito coletivistas, as fazem enxergar o mundo sob uma forma mercadológica, de oferta e procura, cujo único intuito é enriquecer. Dessa forma, sobretudo com a construção da ideia de propriedade privada, seu egoísmo está até certo ponto condizente com seu sistema associativo, onde a cooperação entre os membros se dá (quase que) exclusivamente como um negócio, através dos patrões e empregados.
No entanto, seu sistema ideológico esbarra no sistema adaptativo, pois o planeta Terra não tem capacidades naturais de suprir a demanda de recursos dessas sociedades. Não é difícil perceber o motivo das hecatombes que assolam o planeta nas últimas décadas: o sistema adaptativo não consegue suprir a demanda da população, que possui um sistema ideológico insustentável.
Dessa inconsistência entre os sistemas culturais, decorrem diversas consequências patológicas à sociedade: catástrofes naturais e mazelas sociais. Dentre as mazelas estão a bulimia, anorexia, depressão, disfunções sexuais, suicídio, altos índices de violência etc. Essas mazelas surgem quando uma sociedade não encontra correspondência da sua visão de mundo nos seus sistemas adaptativo e associativo. A globalização e homogeneização cultural, simbolizadas na cultura “enlatada” vendida pelos filmes de Hollywood e desfiles de moda que elegem um padrão inatingível como perfeito, estão levando as sociedades a um abismo profundo. A cultura está em perigo.

A CULTURA ESTÁ EM PERIGO

O universo artístico sempre constituiu uma forma de simbolização cultural, quer seja na contestação, quer seja na legitimação de determinada cultura. Picasso pintou “Guernica” para contestar uma cultura mundial que guerreava, matando inocentes, a troco de nada. Um artista grego, por sua vez, elaborava sua obra retratando a realidade em que vivia. Assim, o nu artístico, as ordens Dórica, Jônica e Coríntia na arquitetura, bem como as cerâmicas gregas, simbolizavam e legitimavam a cultura helênica.
No entanto, com o fenômeno da globalização, a cultura dos países ricos passou a ser comercializada por todo mundo, através dos filmes, músicas, clipes, programas de TV etc. Assim, as visões que cada sociedade tinha sobre si, passaram a ser influenciadas pelas visões de outra sociedade. Nessa mistura, a autenticidade de cada cultura foi colocada em xeque, de tal forma que Pierre Boudieu, o francês considerado um dos maiores pensadores da relação comunicação e cultura, chegou a afirmar que “a cultura está em perigo”.
A afirmação de Bourdieu se justifica. Preocupado com a subordinação do campo cultural às regras de mercado, o pensador francês expôs um problema que constantemente perpassa o universo artístico: como sustentar a arte, sem tirar-lhe a autonomia? Mais, como garantir que o campo artístico tenha autonomia frente ao campo político? Buscando encontrar exemplos de resistência aos interesses políticos-comerciais, e com base nos questionamentos de Bourdieu, nossos repórteres foram a campo. O local escolhido: o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, o maior polo cultural de Fortaleza.

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